quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Aparências

O celular vibra a acordando.  Fica entre o sono e a ressaca que ainda está por vim. Depois de muito adiar, se levanta para enfrentar o dia que começou sem ela. Um encontro as escuras. Tenta disfarçar a cara de ontem com um pouco de corretivo e rímel. Salto, óculos escuros, está pronta pra outra.

Ele já a espera com cara de segundas intenções. E ela ainda atordoada pelo sono só pensava em voltar pra cama e recuperar o sono perdido. Porém se conectaram de alguma forma, e aquela vontade imensa de ir pra casa foi passando.

Se conheceram, ao menos o que permitiu aquela tarde de domingo. Ele tentando seduzí-la com palavras bonitas, enquanto ela esnobava todas as investidas dele. Foi ficando sem munição e decidiu entrar na dela. Pareciam velhos amigos, contando todas as coisas que não seriam apropriadas se quisesse conquistar alguém.

Ele ria, e não conseguia imaginar que não precisou usar sua lábia costumeira com aquela garota pequena e seus saltos que a primeira vista parecia exatamente como as outras. E conseguiu se encantar por ela ser tudo, menos a pessoa mais chata do mundo.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Quando eu deixei de ser pra você

Ele tem o dom de aparecer de repente.

Ainda lembro de um dia próximo do fim, quando os sentimentos ainda fervilhavam, que ao chegar em casa o vi da janela do ônibus. Na época achei tão roteirizado, tão clichê que fiquei abobalhada pelo momento.

Hoje, depois da euforia passar, das lembranças demorarem mais para aparecer, de músicas e livros não me lembrarem mais ele, o vejo onde menos esperaria ver. Aliás, eu nunca esperaria vê-lo. E aí que ele aparece, como da primeira vez, quando eu nem esperava mais.

O vento forte me bagunça o cabelo, e quando eu me viro o que eu vejo é ele. Três segundos de contato olho a olho. Talvez tenha pensado: "essa menina me é familiar". Não sei. Só o que eu pensei foi que eu estava na minha melhor forma, e mesmo assim isso não fez com que ele me olhasse uma segunda vez. Não o interessou me reconhecer.

Nem lembro se meu coração começou a pulsar. A sensação que eu tive foi como o do último beijo, com gosto de último, com gosto de acabou.

Eu ainda lembro dele com carinho as vezes. As músicas de fossa que antes me traziam lembranças nem fazem mais sentido de serem ouvidas, como se eu não me identificasse mais. Talvez isso seja seguir em frente, mesmo que tenha sido bastante tardio, apesar de sempre ter me sentido livre.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Ela ainda era apenas uma garota quando aconteceu. Olhares foram trocados diversas vezes, porém não se passava de um romance unilateral.
Ele, homem feito, não via nada além de uma garotinha que ainda tinha muito o que viver. Ainda chegou a pensar: "quem sabe quando ela se tornar mais madura".
Ela queria se transformar em alguém que fosse boa o suficiente para finalmente ser vista por ele. Não entendia que o único empecilho seria a sua falta de maturidade. Chegava até a pensar que fosse por defeitos que ele nem mesmo enxergava. Paranoia da cabeça dela.
Depois de muito observar como as garotas da idade dele agiam, decidiu que seria a hora de mudar, pelo menos aparentemente, parecer mais velha. Trocou seus chinelos por saltos altos apenas pra ficar mais próxima dele.
Erro dela, mesmo com 15 centímetros a mais ela não conseguia ser vista. E foi nesse momento que apareceu alguém novo, ou ela apenas começou a enxergar outras pessoas além dele.
O novo garoto aceitou ela com seus chinelos, e até a zoava quando ela usava seus saltos, que depois disso começou a gostar de usá-los. Ela sentia que aquele par de sapatos tinha sido um marco, ela finalmente tinha amadurecido.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Um relacionamento que se alimentava de silêncio

Era tudo uma questão de orgulho. Ele desde o primeiro momento a preveniu que não era um cara que enviava mensagem de texto, que isso não passava de bobagem. Que não queria nada sério, pois tinha acabado de sair de um relacionamento falido.

Ela concordou com as regras dele, e a única comunicação que realizavam fora do contato pele-a-pele, era para combinar algum encontro ocasional. Então a cara de espanto que ela expressou quando leu seu primeiro sms dele, aquele logo após um encontro por acaso, aquele que não era retribuindo nada que ela tivesse enviado, a deixou com um sorriso bobo nos lábios.

Depois disso, eles passaram a se falar com mais frequência. Nada de passar horas contando a respeito do que aconteceu sobre seus dias, porque um simples “oi” ou um “sinto tua falta”, um “boa sorte” em alguma prova que ela faria, abarcava todas as palavras não ditas.


Tinham finalmente quebrado a barreira. Pelos menos era isso que ela achava. Essa falta de informação a respeito da vida dele tinha deixado uma incógnita. Então ela descobriu o verdadeiro motivo dele não se abrir totalmente, ele teria de se distanciar em breve. 

Não haviam mais mensagens de "boa noite", nem desejos de "feliz  aniversário". A distância  fez com que se afastassem lentamente, até o ponto de se tornarem dois estranhos passando lado a lado na rua.